segunda-feira, janeiro 16, 2006

Privilégio

Hoje temos o enorme privilégio de contar com um texto que Ugia Pedreira escreveu para um acto organizado pola Conselharia de Igualdade contra a violência de género.
Como nos tem acostumadas nas letras das suas cançons, Ugia escreveu um texto poético, fermoso, cheio de significados curvos, com esquinas e rendijas, com os que nos encantaria sentir-nos identificadas.
Obrigada Ugia, por dar-nos licença para publicá-lo neste web.



Dim que o sol se chama Lourenço e a lua Catarina.
Mas eu creio que existem homens lua e mulheres sol, som aquelas que iluminam o dia para que chegue boa a noite.
Aquelas amigas das gatas cubanas que desde novinhas se sobem as árvores e as mais listas ajudam as mais torpes.
Podem ser talvez as nossas antepassadas, as fiandeiras que fiavam o destino, as que lavando contavam histórias, a administrativa que escuita os teus problemas burocráticos diante da montra duma instituiçom, a tua mai cansada.
Pudo ser mulher sol Egéria "a viageira", pudérom ser tantas artistas galegas Angeles Ottein, Ofelia Nieto, Finita Gay... e tantas mulheres da história da-arte-do-país.

As mulheres sol tenhem e pedem desejos. Umas pedem-lho as virgens, outras quando estreiam sapatos, quando vem uma estrela fugaz, quando tomam um iogurte bioactif. Pedem-lho a Pilates e a Alexander.
Pedem-lhes toda a sensibilidade para o necessário:
manuais de autoajuda
cremas
taichi
dormir muito a poder ser
mudar a cor do cabelo
viajar
massagens
construir uma casa branca com linhas rectas e branco sofá
bater papo
um arranjinho duma noite
um abraço de urso
chorar até secar as laganhas da noite
buscar o equilíbrio emocional nos ácidos grassos omega 3
A mulher sol perdeu o medo comprometedor das palavras e qualquer momento do dia é bom para a linguagem amorosa.
A mulher sol implantou uma nova forma de negociaçom nos negócios.
A mulher sol vai tirando caretas ao longo da vida.
E a mulher sol, irmá do prazer, ri muito, ri-se de si mesma, dos demais, com eles e com elas.
A mulher sol alimenta-se de algas em honra a Maruja Malho, em honra ás nenas labregas que iam apanha-las para fertilizar os campos.
A mulher sol é adicta a perversons brandas. Visita o paraíso do baile e mesmo algumas perdem a sua postura humana para voltar-se felinas com ele, mesmo alguma chega ao olvido.
A mulher sol tem desde o seu nascimento acusados dotes para o autoconhecimento e observaçom do contexto.
A mulher sol tem pensamento em rede, liga dados, percebe detalhes e os matizes por isso em determinados casos tenhem menos salário que os homens lua ou os homens sol.
As mulheres sol rejeitam a violência. Tenhem outros dotes.
A mulher sol tem necessidade de infinito.

Meu pai di que foi educado entre mulheres, tivo que viver entre distintas geraçons femininas: a madrinha, a avó, a mai, as tias, minha mai, a amante, a filha... Ele di que cada vez entende menos o mundo feminino.
O que nom sabe é que UMA pode ser TODAS , e TODAS temos boa memória.

Ugia Pedreira.
24 de novembro de 2005. Centro de Arte Contemporânea de Compostela.
Dedicado e agradecido a Rosa Bugallo, Estevo Creus, Raquel Miragaia , Xurxo Souto (mulher sol) e Antón Sobral "La mujer placer".

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois sim é um privilégio, é um texto precioso :)

Já sou sócio, entom? :D

Fam_namber_güam disse...

pois já está o carné de sócio em caminho
:-)